Leitura Fonte de Saber


A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.

Carlos Drummond de Andrade

A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde.

André Maurois

Viajar pela leitura

Viajar pela leitura
sem rumo, sem intenção.
Só para viver a aventura
que é ter um livro nas mãos.
É uma pena que só saiba disso
quem gosta de ler.
Experimente!
Assim sem compromisso,
você vai me entender.
Mergulhe de cabeça
na imaginação!

Clarice Pacheco

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Livro da Semana

Doente e com a alma neblinada, inerte em uma cama ao sabor do tique-taque do velho relógio do avô incrustado na parede, Lena, que sempre viveu de juntar sentidos, sente-se perdendo não só o prumo como também a lembrança das coisas e das palavras. Passa a viver, então, um presente-futuro cheio de limites: externos, porque frequentemente esbarra em móveis e nos cantos de quarto; internos, porque perdera a liberdade de escrever o que pensa, já que as palavras somem — tudo, dentro e fora dela, balança. Lena está repleta de rachaduras como uma construção prestes a desabar. Por isso, o chão “sólido” é tão importante. Nem mesmo o marido estende a ela um chão firme — o casamento se desmanchou no ar quando ele se apaixonou por outra, e o relacionamento está agora oscilante. Ninguém sabe os rumos de um casamento bambo. 


A memória, terra imprevisível, é revolvida de tempos em tempos. Em sua reclusão, Lena tenta montar um quebra-cabeça com os retratos antigos que revê. Recompõe a partir daí histórias paralelas, trazendo de volta lembranças do colégio, os amigos, os colegas de redação, os familiares, os irmãos dela na luta contra a ditadura, enfim, tudo é remexido. 





Ao final deste lindo romance cheio de esconderijos, tais como a mente da personagem, descobre-se a decisão: “Deu as costas para a casa, sólida e ensolarada. Pendurou a sacola no ombro e, mancando ligeiramente, caminhou em direção ao automóvel que a levaria para o aeroporto. Tão simples, tão fácil, o coração continua, cutum-cutum-cutum-cutum, é só a gente ver onde pisa, cutum-cutum-cutum-cutum, e saber aonde quer chegar”. 


Os caminhos da boa ficção são imponderáveis como esta partida de Lena rumo ao desconhecido, assim como toda a história contada em “Tropical sol da liberdade”. O zanzado das formigas iniciou uma caminhada que retrocedeu aos tempos da ditadura, de volta a um Brasil jamais esquecido; a memória viva do passado em contraste com o presente esfacelado na cabeça confusa de Lena parece dizer: perde-se facilmente a lembrança suave dos ventos bons, mas as memórias ardidas são intensas. E é a partir delas que tudo o mais se recompõe. 


Livros na cabeceira



É realmente  maravilhoso ter um bom livro na cabeceira. Ler antes de dormir pode ser  relaxante, além de ser uma maneira prazerosa de encerrar o dia. 

Crônicas


Eu tenho uma verdadeira afeição pelas crônicas. Acho-as de uma leveza tão aconchegante. Gosto de todas, das mais recatadas e singelas de Rubem Braga, às mais irreverentes de  Luiz Fernando Veríssimo, como também o humor despojado de  Mario Prata. 
Uma boa crônica  toca fundo  na gente, emociona, nos distrai e  nos faz  refletir sobre pequenas coisas do cotidiano. E o melhor em apenas um texto.  Não que ler muito seja ruim, mas o que quis dizer que uma boa leitura não depende do tamanho de um texto. E o que fato dela ser assim simples torna a leitura mais especial. Há crônicas que vale a pena ler e reler e ainda assim não perde-se o encanto.
Existem cronistas que me conquistaram, outros que ainda estou na fase de apresentação leitor-escritor. Mas a crônica em si, ah  por essa eu já me rendi.  

Perder a viagem     

Você pede ao patrão para sair mais cedo do trabalho, pega um ônibus lotado, vai para um consultório médico que fica no centro da cidade, gasta seus trocados, seu tempo e seu humor, e, ao chegar, esbaforido e atrasado, descobre através da secretária que sua hora, na verdade, está marcada para semana que vem. Sinto muito, você perdeu a viagem.
Todo mundo já passou por uma situação assim, de estar no lugar errado e na hora errada por pura distração. Acontecendo só de vez em quando, tudo bem, vai pra conta dos vacilos comuns a qualquer mortal. O problema é quando você se sente perdendo a viagem todos os dias. Todinhos. É o caso daqueles que ainda não entenderam o que estão fazendo aqui.
Estão perdendo a viagem aqueles que não se comprometem com nada: nem com um ofício, nem com um relacionamento, nem com as próprias opiniões. Estão sempre flanando, flutuando, pousando em sentimento nenhum, brigando por ideia nenhuma, jamais se responsabilizando pelo que fazem, pois nada fazem. Respirar já lhes é tarefa árdua e suficiente. E os dias passam, e eles passam, e nada fica registrado, nada que valha a pena lembrar.
Estão perdendo a viagem aqueles que, em vez de tratarem de viver, ficam patrulhando a existência alheia, decretando o que é certo e errado para os outros, não tolerando formas de vida que não sejam padronizadas, gastando suas bocas com fofocas, seus olhos com voyeurismo, sem dedicar o mesmo empenho e tempo para si mesmo.
Estão perdendo a viagem aqueles preguiçosos que levam semanas até dar um telefonema, que levam meses até concluir a leitura de um livro, que levam anos até decidir procurar um amigo. Pessoas que acham tudo cansativo, que acreditam que tudo pode esperar, que todos lhe perdoarão a ausência e o descaso.
Estão perdendo a viagem aqueles que não sabem de onde vieram nem tentam descobrir. Que não sabem para onde ir e nem tentam encontrar um caminho. Aqueles para quem a televisão pode tranquilamente substituir as emoções.
Estão perdendo a viagem aqueles que se entregam de mão beijada às garras do tédio.

Por Martha Medeiros

Clarice Lispector


Falar de livros,literatura e não lembrar de Clarice Lispector é  quase impossível. É uma das escritoras brasileiras que mais admiro.
Tem escritores que escrevem muito bem, outros eu diria que tem a  arte de escrever. Assim eu descrevo Clarice, alguém que tinha dentro de si a arte da escrita. Porque escrever vai além de saber regras gramaticais e colocá-las ordenadamente no papel. Escrever vem  de dentro, tem que  ter alma, tem que ter vida. As vezes não queremos somente  ler um bom poema ou uma boa história, queremos senti-la reacender     sob nossos olhos, sob o nosso eu.

"Sou os brinquedos que brinquei, as gírias que usei, os nervosos e felicidades que já passei. Sou minha praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, sou os amores que vivi, as conversas sérias que tive com meu pai: Eu sou o que me faz lembrar!!!

Sou a saudade que sinto, sou um sonho desfeito ao acaso, sou a infância que vivi,
sou a dor de não ter dado certo, sou o sorriso por tudo que conquistei, sou a emoção de um trecho de livro, da cena de filme que me arrancou lágrimas: Eu sou o que me faz chorar!!!


Sou a raiva de não ter alcançado, sou a impotência diante das injustiças que não posso mudar, sou o desprezo pelo que os outros mentem, sou o desapontamento com o governo, o ódio que isso tudo dá. Sou o que eu remo, sou o que eu não desisto, sou o que eu luto, sou a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta ao ver um animal abandonado: Eu sou o que me corrói!!!

Eu sou o que eu luto, o que consigo gerar através de minhas verdades, sou os direitos que tenho e os deveres a que me obrigo, sou a estrada por onde corro, sou o que ensino e, sobretudo, o que aprendo: Eu sou o que eu pleiteio!!!

Eu não sou da forma como me visto, não sou da forma como me comporto, não sou o que eu como, muito menos o que eu bebo. Não sou o que aparento ser: [b]EU SOU O QUE NINGUÉM VÊ!!!"

Humor


 

A nossa amada leitura do dia a dia pode ser seriamente prejudicada pelos desavisados de plantão. Pessoas que não apreciam a leitura, e até criticam os leitores não respeitam esse momento. A leitura para ser proveitosa precisa  de entregas do leitor. Seria maravilhoso se não tivéssemos que passar por situações irritantes como essa.

sábado, 8 de junho de 2013

Pelos caminhos que ando 
um dia vai ser 
só não sei quando 

Pergunte ao pó 
Cresce a vida 
Cresce o tempo 
Cresce tudo 
E vira sempre 
Esse momento 
Cresce o ponto 
Bem no meio                                                

Do amor seu centro 
Assim como 
O que a gente sente 
E não diz 
Cresce dentro 
Razão de Ser 
Escrevo. 
E pronto. 
Escrevo porque preciso, 
Preciso porque estou tonto. 
Ninguém tem nada com isso. 
Escrevo porque amanhece, 
E as estrelas lá no céu 
Lembram letras no papel, 
Quando o poema me anoitece. 
A aranha tece teias. 
O peixe beija e morde o que vê. 
Eu escrevo apenas. 
Tem que ter por quê? 
Retrato de lado 
retrato de frente 
de mim me faça 
ficar diferente 
Segundo consta 
O mundo acabando, 
Podem ficar tranquilos. 
Acaba voltando 
Tudo aquilo. 
Reconstruam tudo 
Segundo a planta dos meus versos. 
Vento, eu disse como. 
Nuvem, eu disse quando. 
Sol, casa, rua, 
Reinos, ruínas, anos, 
Disse como éramos. 
Amor, eu disse como. 
E como era mesmo? 
Sem Budismo 
Poema que é bom 
acaba zero a zero. 
Acaba com. 
Não como eu quero. 
Começa sem. 
Com, digamos, certo verso, 

veneno de letra, 
bolero, Ou menos. 
Tira daqui, bota dali, 
um lugar, não caminho. 
Prossegue de si. 
Seguro morreu de velho, 
e sozinho.

Paulo Leminski

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Das Vantagens de Ser Bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." 

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. 

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostóiesvki.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. 

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?" 

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! 

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. 

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem. 

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! 

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector